segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Precisamos das gravadoras?

As gravadoras manipulam o mercado fonográfico de uma maneira que considero antiética e imoral (em alguns países essas práticas são até ilegais). Decidem o que entra e o que sai do catálogo com base na rentabilidade e não na criatividade artística. Músicos ótimos algumas vezes são excluídos, não por que não tem talento mas por que, por exemplo, competem com outra estrela da gravadora na mesma faixa de público ou por que não apresentam a mesma rentabilidade que no álbum anterior. As rádios recebem Jabá (brindes, prêmios e dinheiro) para tocar a música de um artista muitas vezes de qualidade musical questionável para ser promovido, enquanto outros músicos não tem a menor chance de se destacar. Elas promovem bandas de apelo popular, musicas que “pegam rápido” ou muito semelhantes a sucessos anteriores como forma de garantir ou maximizar a rentabilidade. Se o músico compõe algo que não parece rentável, o produtor musical pode arrumar um “arranjador”, sugerir modificações ou retirar a música do álbum. Surgirem artistas independentes, livres e realmente criativos no mercado fonográfico tradicional é um verdadeiro milagre.

Se você perguntar para qualquer músico que não tem um disco gravado o que ele mais deseja, muitos deles, acima até mesmo do dinheiro vão dizer que é ter o seu trabalho conhecido e apreciado.

Sites como Last FM (www.lastfm.com) ou Pandora (www.pandora.com) que foi proibido em vários países como o Brasil, indicam a música pela similaridade de gosto musical. Com isso o ouvinte passa a conhecer bandas que mais aproximam do seu gosto. Por exemplo, ao ouvir Bad Religion e Pennywise, você pode acabar descobrindo a banda brasileira Rusty Project (www.rustyproject.com) de Curitiba. Ela tem um estilo musical que parece não agradar as gravadoras nacionais (um tipo de Punk Rock com canções em inglês).

Apesar de não terem contrato com nenhuma gravadora eles tem um estilo musical e qualidade técnicas impecáveis. Um fã desses conjuntos internacionais jamais descobrira um artista como esse. Não está nas rádios ou tem CD nas lojas, mas o som agrada em cheio os ouvintes. Isso acontece por que os fãs indicam para as pessoas de gosto semelhante (os chamados vizinhos musicais) e de boca em boca ou melhor de clique em clique o nome via se espalhando. O mais curioso é que o Rusty Project distribui sua música de graça por que quer! Outros artistas mais famosos como Dave Matthews Band vem distribuindo musicas de graça pelos seus sites ou através do My Space, por que eles perceberam o potencial que isso tem.

Graças aos sites de afinidade musical isso é possível. O mesmo fã de punk rock pode encontrar-se escutando bandas da Filipinas como Slapshock os Suecos do Passanger, e os alemães do Panik. A diversidade se torna imensa e sem interferência das gravadoras. As pessoas passam a decidir do que gostam por si mesmas, de forma muito mais pulverizada como nunca antes foi possível. Contudo esse tipo de experiência ainda é limitada. São poucos os sites que fazem esse tipo de indicação por afinidade musical e o alcance do público que tem acesso a internet de banda larga para fazer uso dessas ferramentas ainda é pequeno. Mas quando as gravadoras perceberam o potencial que isso tem, entraram em pânico. O poder de influenciar o mercado musical está saindo das suas mãos. Elas não sabem o que fazer. Lembrem-se que ha alguns anos ninguém tinha idéia do que era MP3 ou Napster, agora a música digital e o compartilhamento de arquivos ameaçam a indústria.

Não é difícil prever o fim da influencia das gravadoras e a manipulação do mercado em alguns anos. O que a RIAA (Recording Industry Association of America) fez? Bloqueou o Pandora e está perseguindo as rádios on-line. Mas as rádios não deveriam ser benéficas para as gravadoras por que divulgam os artistas? Rádios que não podem ser manipuladas, nem controladas por região não são interessantes a indústria.

Além disso, as gravadoras mantêm em catálogo aquilo que é rentável. Por exemplo, é possível hoje comprar praticamente todos os discos lançados pelos Beatles, por que a mais de 40 anos eles continuam rentáveis. Mas outros artistas que mesmo tendo qualidade musical não tem a mesma sorte. Se você tentar comprar o álbum Construção (1969) do Chico Buarque, provavelmente vai só encontrá-los em sebos, por que ele está fora de catálogo. Aí cabe ao fã rezar por um lançamento de uma coletânea ou uma reedição especial. Não deveria ser assim. Bandas de punk rock filipino também não vão encontrar vez no catálogo das gravadoras a não ser que seja sucesso em muitos outros países antes de chegarem às prateleiras tupiniquins.

Contudo na internet os acervos completos estão disponíveis em forma digital todo o tempo. Discos raros, fora de catálogo e bandas obscuras estão lá! A cultura está preservada e acessível para quem quiser. Não dá para ser mais democrático e livre!

A comercialização de obras artísticas com o interesse de maximizar a rentabilidade das gravadoras não é boa para a cultura. Se eles necessitarem prensar mais cópias do último disco do Sorriso Maroto eles não vão hesitar em tirar a Construção de Chico Buarque do catálogo! Será que esse deveria ser o critério para manter um artista em catálogo? Será que tudo deveria se resumir a rentabilidade? Será que um artista deveria ser desprezado por não ter gravadora?

Não sou contra o capitalismo, mas quando se trata de trabalhos artísticos e culturais e se tem dinheiro interferindo na criação eu acredito que isso invade a área da liberdade de expressão. O modelo de negócio das gravadoras vai ter que mudar para contemplar as mudanças tecnológicas, culturais para não mais ferir a liberdade de cultura e expressão.

4 comentários:

  1. Me foi passado o seu endereço , pois, em minha comunidade do orkut, estávamos conversando a respeito de blogs que estão sendo perseguidos lá fora, por postarem trabalhos variados de artistas variados; tanto que muitos, já ""sairam do ar"".
    Sua maneira de pensar, é muito simples e lógica, expôe de maneira fácil, o que REALMENTE acontece.
    Parabéns pela postagem e pela sensatez.
    Abraços

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  2. parabéns! seu artigo é excelente. Nemézio JP-PB

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