quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O choro das vídeo locadoras

Com a internet os custos de distribuição simplesmente despencaram. Não dá para reclamar que as locadoras estão fechando só por causa da pirataria.

Se você tem uma locadora de vídeo, sinto muito! Você tem um negócio que de uma maneira ou de outra sairá do mercado, quer seja por causa da pirataria quer seja por outras tecnologias.

Existem quatro coisas que as pessoas odeiam sobre ir alugar filmes:

1- Ter que devolver o filme (pelo menos hoje não é necessário rebobinar).
2- Chegar à locadora e não encontrar o filme desejado e acabar levado um filme de consolação.
3- Ter que ir a locadora para alugar um filme, principalmente quando é sexta-feira, dia de chuva e feriado prolongado.
4- Pressão para assistir logo. Se você não assistir você vai ter que devolvê-lo ou pagar uma multa.

Assim os consumidores estão procurando por novas alternativas.

Se não fosse a pirataria as locadoras iriam morrer assim:

Vídeo On Demmand
Vídeos alugados pela internet através de download sem devolução, sem fila, sem espera pela volta de um filme que já está alugado. Infinitamente mais prático que a locadora. Elimina os três principais motivos pelos quais os consumidores. Existem set top boxes (aquelas caixinhas semelhantes a da TV á cabo) nos EUA em que o usuário liga o aparelho na internet, escolhe pelo controle remoto de um catálogo que faria qualquer locadora morrer de vergonha e selecionar os filmes. Você espera alguns minutos para iniciar o download (dependendo da conexão) e uma vez iniciado você pode começar assistir (o download continua enquanto você assiste). O Windows Media Center já oferece esse recurso aqui no Brasil, mas ainda é limitado.

DVR - Digital Video Recorder
São gravadores de vídeo digital como o Tivo, Sky +, Net HD Max, que tornam o processo de gravação simples e fácil como jamais foi feito pelos videocassetes e gravadores de DVD. Nos EUA Tivo já virou uma palavra do vocabulário e “tivar” um programa é uma atividade corriqueira. Veja o que é um Tivo em http://www.tivo.com/ . O Tivo permite a chamada pausa ao vivo, gravar programas em vários canais simultaneamente e muito mais é inteligente que um vídeo cassete ou gravador de DVD. Você instrui o aparelho e ele fica de olho na grade de programação para gravar aquilo que você gosta. Se você diz que gosta da Série Friends ele pode gravar todos os episódios que passarem em qualquer canal. Mais ainda ele pode gravar filmes e outras séries onde o Joey aparece ou gravar só os episódios inéditos para você. Aliado ao pay per view é uma experiência muito melhor do que a locadora. Ao chegar á noite em casa, você pode ver o que o Tivo “andou gravando” e escolher se você quer ver ou não, apagar o que foi gravado (ele usa um Disco Rígido) e pedir para não gravar mais ou gravar outras coisas. Por exemplo: Grave filmes de ação, mas não os do Steven Segal, grave filmes de suspense que são inéditos e que tenham avaliação de pelo menos três estrelas. Isso é muito melhor que definir hora de início, término e canal.

DVDs one way
É um DVD descartável. Você compra em aeroportos, bancas de jornal, livrarias, e ao abrir ele tem uma camada orgânica que começa a se deteriorar após a abertura. Você pode assisti-lo algumas vezes e depois de um tempo ele para de funcionar. Aí você o joga fora sem ter que devolver para a locadora. Não há fila de espera pelo último lançamento, não há DVD riscado, não requer devolução. Você pode estar em um aeroporto, comprar um para assistir durante a sua viagem em seu notebook e jogá-lo fora ao chegar ao seu destino ou ainda optar por assistir depois no hotel, na volta.

Como fica claro, as locadoras estão condenadas. Essas tecnologias ainda não se espalharam no Brasil por que a pirataria concorre com todas elas. Mas não se engane é por isso que as pessoas preferem um filme com qualidade inferior a ter que sair para devolvê-lo ou não encontrarem o último lançamento. Elas pagam entre 5 e 10 reais por isso no camelô ao invés de pagar entre 5 e 9 reais para alugá-lo legalmente.

Algumas locadoras ainda devem resistir por mais um tempo graças ao nicho do Blu-Ray. Hoje, baixar 50Gb da internet ainda é difícil, mas operadoras como a telfónica já oferecem 30Mbits de velocidade por fibra ótica em regiões nobres de São Paulo. Quanto tempo você acha que vai levar para isso estar amplamente disponível?

Se você tem uma vídeo locadora você vai ficar sem emprego. Ela vai fechar. É inevitável.

Os fabricantes de ferraduras do passado que ficavam reclamando que o seu negócio estava falindo por causa dos carros. Alguém hoje acha de deveríamos voltar a andar de charrete?

A culpa não era dos carros e sim dos ferreiros que deveriam ter aprendido a profissão de lanterneiro, latoeiro ou funileiro (dependendo de que parte do Brasil você é) e não reclamar mais dos carros.


A pirataria é um ponto sem volta. As leis de direitos autorais estão ultrapassadas e vão ter que mudar. A mudança tecnológica não pode voltar atrás! As indústrias de entretenimento e software vão ter que se adaptar. A indústria de distribuição de mídia vai sofrer. Mas não adianta chorar.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

TV e pirataria




Como é difícil escrever pouco! Desculpem-me, vou tentar ser mais resumido.

Ao contrário do Cinema, que ainda pode tirar excepcionais lucros das salas de exibição a TV é um desafio diferente. Quando eles comercializam séries antigas em DVD por preços extravagantes eu acho um absurdo porque os custos de produção já foram amortizados. Mas quando são séries novas, o abatimento dos custos deve se dar por publicidade. As margens, portanto são menores.

Você pode achar que a TV aberta é gratuita, mas não é bem assim. É um modelo de três partes. As emissoras produzem, o público assiste e os anunciantes pagam. Assim ao baixar os filmes, ou avançar nos comerciais você não está “pagando” pelo produto.

Muitas séries como Lost ou Desperate Housewives chegam à internet, antes da exibição na TV aberta, fazendo com que a audiência das séries caia. A produção dessas séries mais sofisticadas pode chegar a milhões de dólares por episódio.

Acho que o modelo de TV aberta vai continuar existindo, principalmente para Jornais, eventos ao vivo e novelas. O imediatismo vai continuar existindo. Elas também vão existir para exibir e gerar a própria programação local ou regional. Mas a exibição de séries ou filmes para TV vai sofrer uma mudança radical.

Um dos problemas é que com o modelo atual as emissoras controlam os contratos, a distribuição e exibição. Assim enquanto uma nova temporada não é negociada, os fãs podem ficar a ver reprises. Pode-se decidir que a série que você tanto gosta, não tem audiência no Brasil e assim as duas temporadas finais jamais vão ao ar.

Numa distribuição direta, do produtor para o espectador a distribuição (emissoras de TV e TV a cabo) seria desnecessária, mas o esquema de anúncios também não faria sentido. Assim para viabilizar um modelo economicamente a publicidade poderia ser feita com marcas d’água (semelhante ao logotipo das emissoras no canto, que quase nem é percebido). Apesar de o lucro com esse tipo de publicidade ser bem menor e com uma possibilidade de veicular a mensagem muito mais limitada, o custo de distribuição tenderia a zero.

Assim dá para imaginar que ao invés de baixar o último episódio de Lost e esperar pela “legendagem” voluntária de abnegados usuários. Você poderia se inscrever e baixar no mesmo dia do lançamento, já legendado e isso poderia lhe custar alguns trocados (algo como R$ 1), mas seria muito mais conveniente. Em especial se fosse um esquema de assinatura.

Imagine que só um episódio de Desperate Housewives chega ser baixado do Mininova por um milhão de usuários. Somando-se todos os sites desse gênero e outras formas de P2P dá pra chegar a dois ou três milhões de usuários. Adivinha? Se você faturar um Real de cada usuário e 1,5 Reais de cada anunciante, por cópia baixada fica fácil imaginar um faturamento direto de 1 milhão de dólares. Em um mesmo filme, marcas d’água poderiam ser vendidas por seguimento de 20 minutos e o faturamento poderia ser ainda maior.

O usuário ganha a praticidade e a facilidade do donwload com acesso direto ao lançamento sem reprises. O produtor ganha o seu dinheiro (menos é verdade) e também a difusão do trabalho. Penso que seria um modelo de negócios muito bom, mas que não agradaria é claro as Emissoras de TV.

É claro que para viabilizar as produtoras deveriam adotar o modelo. O que já aconteceu com a série Lost em questão. Veja em: http://en.wikipedia.org/wiki/Lost_(TV_series) – On Line Distribution (em inglês).

Nix.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Pirataria no Cinema




Eu tenho dado muita ênfase no mercado fonográfico porque é muito difícil tratar de todos os aspectos e exemplificá-los em todos os mercados ao mesmo tempo. Ficaria confuso e mais longo ainda. Assim eu tenho usado o mercado fonográfico como um exemplo, mas muitas das explanações e argumentos que são válidos para a indústria musical também podem ser extrapolados aos outros distintos mercados (software, livros, fotografia, TV e cinema). Mas outras colocações não. Assim cada mercado necessita de uma abordagem específica sobre o tema.

Mesmo no mercado audiovisual como um todo, temos que dividi-lo em TV, Cinema (DVDs) e Cabo. Por que esses têm modelos de negócio distintos requerendo assim abordagens também específicas. Neste post eu vou falar do Cinema e DVDs de filmes.

Existem algumas diferenças enormes na produção e consumo de filmes e música. Os filmes são muito mais caros de serem produzidos, mas tem uma vida mais curta. A não ser que você seja um cinéfilo, uma criança, ou um fã alucinado por um determinado filme, a maior parte das pessoas assiste o mesmo filme cerca de 5 vezes em toda sua vida em média. Não é um calculo científico, mas empírico. Você pode ver no cinema, depois eventualmente você aluga, assiste na TV a cabo e uma vez mais uma reprise na TV aberta em um dia de chuva. Claro que se você gostar muito você pode ainda chegar a 10 ou 16 vezes. Mas a maior parte das pessoas consideraria isso muito. Os CDs e DVDs musicais pela sua natureza podem ser vistos/ouvidos centenas, talvez milhares de vezes.

Assim filmes têm um período curto para recuperarem os seus custos. Isso fica ainda pior no caso de grandes sucessos do cinema em que os custos dos mega salários dos atores, efeitos especiais e computação gráfica, promoção e distribuição podem chegar as centenas de milhares de dólares. Uma vez que são vistos perdem rapidamente seu valor, pois as pessoas vão demorar muito tempo para vê-los de novo e pagar por isso.

Mas os filmes também têm uma característica única, que é o lançamento nos cinemas, e as produtoras controlam rigidamente esse lançamento e a distribuição. Se um filme “vazar” para a internet em teoria poderiam ser perdidos milhões de potenciais espectadores e a receita proveniente disso, uma vez que se a pessoa já viu o filme antes do lançamento ela em teoria não veria de novo.

Mas a verdade é bem diferente do que afirmam os estúdios. Apesar de um grande lançamento poder chegar à centena de milhares de dólares os ganhos da indústria com o cinema também são estonteantes.

Peguemos o exemplo do filme Homem de Ferro (2008). Esse filme tem um custo estimado de US$ 140 milhões (fonte: http://www.imdb.com/), contudo no fim de semana de estréia 4.105 sessões geraram um faturamento bruto só nos EUA de US$ 102.118.668!

Ou seja, no primeiro fim de semana ele já praticamente recuperou todo o investimento. Terminou sua carreira no cinema com US$ 318 milhões nos EUA. No Brasil foram 2,.811.622 de ingressos vendidos a um valor sub estimado de R$ 5 você teria cerca de R$ 14 milhões de faturamento. Isso tudo ao mesmo tempo em que eram feitos downloads do filme e DVDs com filmagens feitas dentro do cinema vinham sendo vendidos a R$ 5 no camelô da esquina. Fica claro, portanto que um filme como esse arrecada antes das locações, DVDs e das vendas dos direitos para TV a cabo muito mais do que ele custa. Mesmo com a pirataria estando com vento em popa (sem trocadilhos).

Você pode estar pensando, mas nem todo filme é um sucesso. As produtoras têm que arrecadar mais para suprir os riscos dos eventuais fracassos de bilheteria. Vamos analisar a um mega fracasso então, como exemplo Waterworld (1995) com US$ 175 milhões de orçamento, só faturou US$ 88 milhões. Mas se você for ao site http://www.imdb.com/title/tt0114898/business e fizer as contas. Vai ver que em várias moedas apenas nos países listados (o Brasil não aparece na lista), o filme recuperou claramente o custo. Por exemplo, foram £ 8 milhões só no Reino Unido. O filme faturou ainda US$ 42 milhões em locações. Nada mau para um fracasso!

Tudo bem, você pode achar que os estúdios faturam muito para poder fazer filmes que não seriam “comercialmente tão rentáveis” como a Cor Púrpura de 1985, que faturou US$ 98 milhões para um custo de produção de US$ 15 milhões. Isso tudo só com cinemas e nos EUA. Ou Dogma de 1999 que foi um projeto alternativo e muito controverso (fazendo piada com temas religiosos, anjos assassinos e Deus em forma de mulher), foi uma produção de baixo custo para os padrões de lá. Foi um orçamento de US$10 milhões e que faturou 38. Mas a verdade é que normalmente o orçamento desses filmes mais “cabeça”, “controversos” ou “artísticos” é muito inferior e os estúdios em geral sabem o que estão fazendo tomam muito cuidado para não tomar prejuízo com esses filmes.

É claro que existem filmes como As Aventuras de Pluto e Nash (2002), com um orçamento de 100 milhões e que não faturou nem 6 milhões, e que nem com locação e DVD, Cabo e TV recuperou o investimento. Esse filme é listado no MSN news como o maior fracasso da história da indústria cinematográfica. Mas se o filme é ruim assim.... o estúdio deveria arcar com as conseqüências e não esconder sua ineficiência atrás de lucros exorbitantes. Curiosamente a Warner não anunciou nenhum problema ou o risco de falência depois de um prejuízo tão grande! Diferentemente do que aconteceu com a 20th Century FOX que quase fechou por causa de Cleópatra de 1963, com um orçamento de US$ 44 milhões (hoje 259 em valores corrigidos) faturou 26 milhões (153 corrigido), mas que com a carreira internacional, reprises no cinema por volta de 1970 já havia empatado. As locações em VHS mais as licenças para exibição na TV posteriormente fizeram o filme dar lucro!

Desculpe-me por fazê-los passar por todos esses dados e números, mas isso reforça os argumentos a seguir:

A indústria cinematográfica aprendeu com o passado e hoje sabe muito melhor que antes sabe produzir um filme e o fazer dar lucro (não estou analisando aqui os filmes feitos para TV ou distribuídos diretamente em vídeo, que tem uma lógica diferente vão ser temas de outros posts). Assim os filmes ao serem lançados em vídeo já se pagaram com a exibição só no cinema. Mesmo com a pirataria. Alguns filmes até se beneficiam dela. O Filme Tropa de Elite, 2007 que custou cerca de US$ 4 milhões (uma ninharia) faturou nos EUA US$ 8 milhões e R$ 17 Milhões no Brasil. Curiosamente o filme, “vazou” antes da edição final. As pessoas que baixaram/compraram o filme e depois quiseram ir conferir no cinema a versão final. Foi um dos maiores sucessos nacionais! O filme fez sucesso no Brasil e no exterior apesar de ter sido um dos filmes mais pirateados da história do cinema brasileiro.


A experiência de ver um filme no cinema é única. Mesmo pessoas que assistem a filmes piratas regularmente continuam indo ao cinema. A tela grande, o som surround, a pipoca e a experiência não podem ser igualadas a experiência em casa. Mesmo com a inovação das TVs de LCD e Home Theaters. Tecnologias como cinema digital que serão implementadas em breve vão tornar muito mais barato distribuir filmes, do que como é feito hoje com o celulóide. Outros recursos como telas gigantes IMAX (15 metros de altura), salas especiais, 3D vão tornar a experiência ainda mais rica.

Mas e as capturas feitas de dentro do cinema e os “vazamentos”? Eles sempre funcionam na realidade como uma espécie de amostra grátis, sem custo para a produtora. Quem assiste a um filme de ação em Tele Sync ou Screener (esse é o nome que eles dão a esse tipo de pirataria) está assistindo a um filme de baixa qualidade. No final das duas uma, ou essas pessoas não assistiram o filme no cinema de qualquer maneira, porque elas não se importam com a qualidade ruim e não pagariam pela experiência de ver no cinema, ou são tão loucos pelo filme que irão de qualquer maneira ao cinema assim que ele estréia ou então acabam comprando o DVD. Sim, se o sujeito é fã isso realmente acontece! Em realidade os Screeners acontecem por que há um atraso entre o lançamento nos cinemas e o DVDs. Talvez fosse mais interessante deixar o público decidir onde ele deseja ver o seu filme favorito, se na sala de estar ou na sala do cinema fazendo os lançamentos simultâneos de DVD e cinema. Mas é claro que isso seria abrir mão de parte dos lucros, entretanto acho que seria muito bom para todos. Experiências desse tipo demonstram excelentes resultados como o filme Bubble do diretor Steven Soderbergh.

Hoje a exibição em cinemas é capaz de sozinho manter a indústria cinematográfica. Mas seria necessário que as produtoras repensassem suas estratégias de custos produção. Pagar salários de milhões de dólares para ter esse ator ou aquela atriz, não é na realidade uma coisa necessária. Isso acontece por que os atores muito famosos sabem dos lucros e pedem somas exorbitantes e acabam sendo atendidos. Alfred Hitchcock era famoso por contratar atores pouco conhecidos para época e por cachês mais realistas. Nem por isso seus filmes eram ruins ou os atores se sentiram menos recompensados.

A indústria também sabe que mesmo que a história seja um pouco ruim, a mistura certa de efeitos especiais, explosões e computação gráfica são capazes de fazer quase todo filme dar lucro mas os custos também aumentam. Assim eles focam menos na estória e mais na pirotecnia. Enquanto isso os roteiristas seguem sendo mal pagos a ponto de recentemente terem feito greve. Esses filmes “espetaculosos” atraem uma grande audiência, principalmente de jovens (que são maioria esmagadora nos downloads), e faturam alto. A ênfase em filmes desse tipo de filme saturou os cinemas com obras de qualidade artística e cultural pra lá de duvidosas. Reinam os filmes baseados em heróis de quadrinhos e batalhas espaciais (nada contra os gêneros), mas que consomem os recursos e retiram espaço de filmes com enredo de verdade prosperarem. Os filmes capazes de prender a audiência apenas pela estória e sem uma única explosão, sem apelar para os clichês, são raridade.

Conseguir fazer um filme com criatividade, inovação e um bom enredo sejam aceitos nesse ramo, é quase um milagre. Foram necessárias ao Steven Spilberg muitas batalhas, monstros do mar e caçadores de arcas para conseguir filmar a Cor Púrpura. Um filme que não teria aceitação dos estúdios, não fosse a pressão exercida pelo cineasta.

Portanto mesmo com a pirataria a indústria cinematográfica consegue pagar os custos de produção que são claramente exagerados. Mas ainda assim vende os DVD a 49,90 (Que é um preço cartelizado. Ou seja, sem concorrência! Isso é ilegal, mas ninguém denuncia.).

Existe uma “norma” tácita de distribuição. Um filme estréia nos cinemas, depois vai para DVDs e locação e payperview, só depois disso é que vai para o cabo e finalmente para a TV aberta. Nem sempre se segue esse esquema, mas após uns 2 ou 3 anos o filme já está na TV e o DVD pode ser comprado por algo entre R$ 15 e 19.

Há um tempo eu cheguei a encontrar a trilogia De Volta para o Futuro por R$19. Mais barato do que baixar da internet! Se você considerar o trabalho, a energia elétrica o provedor de acesso. Sai mais em conta!

Repare que isso não é encalhe. Isso é com lucro para o produtor. Mas se dá lucro agora mais de 10 anos depois do lançamento do filme, por que não vendiam a esse preço quando foi lançamento? Os custos na haviam sido amortizados já no cinema? Quanto custa para produzir um DVD?

Os números variam de acordo com o tamanho do lote de produção. Nos EUA esse número é de US$ 1,30 para DVD e US$ 1,45 para Blu-ray considerando um lote de 10 mil peças (http://wesleytech.com/ – Blu-Ray x DVD cost analysis) . Você pode estar pensando... “Como é que é? Um Blu-Ray custa 1,45 para produzir e em um filme em que eles já amortizaram o custo de produção eles me cobram R$ 150 por um disco? Isso é roubo!”. É mesmo, da vontade de dizer isso.

Outra coisa que é intrigante é que devido à natureza dos filmes, um CD como Pink Floyd – The Wall pode ser encontrado por R$ 39,90*. Enquanto um DVD do filme pode ser encontrado a R$ 39,90* . Mas o DVD de Tootsie pode ser encontrado a 15,90*. Repare que este último requereu uma nova capa e nova prensagem por ser um lançamento e edição especial de aniversário de 25 anos com extras adicionais. Por que o Pink Floyd não custa um preço parecido? Por que o CD e o DVD custam a mesma coisa se o CD não traz imagens e o DVD tem qualidade de áudio superior?

A realidade é que todos poderiam custar 15,90! Todos tiveram seus custos de produção abatidos e os direitos já foram pagos inúmeras vezes. Mas por que faturar menos se eles podem faturar mais?

Por fim, o peço é 15,90 porque existem os custos de distribuição, logística, seguro, impostos sobre tudo isso. Mas se você distribuísse pela internet onde os custos de distribuição são próxmos de zero, e nem a mídia e nem a capa seriam necessárias, os impostos que chegam a 40% desse valor também já seriam tantos (base de contribuição menor e natureza de impostos menor), esse filme poderia ser vendido com lucro estupendo a R$ 2,00! Você poderia colocá-lo em um pool, como um serviço de TV on-demmand, pagando por mês para ter acesso ao catálogo e baixar qualquer filme quando quisesse e assisti-lo no conforto de sua casa. Algo como uma módica quantia e você teriam acesso a todos os filmes do catálogo, sem limite de download. Pagando as produtoras, proporcionalmente por filme baixado. Não sei se esse modelo fecharia, mas considerando que os custos de produção já foram recuperados seria uma fonte incrível de recursos para as produtoras.

É claro que no modelo atual elas lucram muito mais, e as produtoras vão lutar com unhas e dentes para mantê-lo da maneira que está.

Seria maravilhoso que Hollywood tivesse a mente aberta para as novas tecnologias e tentassem se enquadrar num novo modelo. É claro que isso afetaria mais que os lucros o controle da distribuição. Isso é tão importante que quando foi definido o formato dos DVDs o mundo foi fatiado em 5 regiões para que a distribuição pudesse ser feita e manipulada de maneira a maximizar os lucros das produtoras. A pirataria simplesmente implodiu esse modelo. Quando o VHS surgiu, uma das queixas das produtoras era que filmes originais eram importados e atravessavam as fronteiras, chegando nos mercados antes dos filmes nos cinemas. Para evitar isso foi criado o sistema de regiões nos DVDs, assim se você vai aos EUA e compra um DVD de um show para assistir no Brasil, o seu aparelho não vai conseguir reproduzi-lo (claro que os piratas deram um jeito nisso).

O que acontecia antigamente é que um filme passava nos cinemas às vezes anos de diferença da data em que eles eram lançados nos EUA. Em São Paulo e Rio os lançamentos até eram rápidos, mas nas cidades do interior a demora podia ser enorme. Assim filmes lançados nos EUA chegavam “importados” e eram legendados amadoramente e essas cópias abasteciam os vídeos-clube de todo o Brasil. Com a internet isso ficou ainda pior. Dias depois do lançamento, filmes já estavam circulando por aí.

Para evitar isso a indústria passou a fazer lançamentos simultâneos e mundiais. Filmes como Matrix Revolutions chegaram a estrear na mesma data que quase todo os países do mundo (5/11/2003) em todos os cinemas. Homem Aranha 3 foi ainda mais longe. Estreou em 20 de abril de 2007, enquanto nos EUA foi só 10 dias depois!!!

Quando que poderíamos imaginar que lançamentos de filmes aconteceriam antes aqui do que nos EUA?

Conclusão:

O custo de produção dos filmes é muito elevado e poderia ser mais barato. Assim só com a exibição nos cinemas é possível recuperar o investimento.

Os ganhos exagerados de Hollywood praticamente acabaram com os filmes com boas estórias dando foco na rentabilidade de filmes “espetaculosos”. Isso esconde a sua ineficiência quando produzem péssimos filmes.

A divulgação de cópias pirateadas (Screener) tem pouco efeito no faturamento do filme, por que são de baixa qualidade. Mas o “vazamento” pode inclusive ser benéfico.

Graças a pirataria a distribuição de filmes ficou mais ágil e temos até o privilégio de estréias antes dos EUA. A indústria teve que repensar seu modelo de distribuição.

Nix.

Referências de preços:
* The Wall (CD) 39,90 na videolar
http://www.videolar.com/ProdutoCD.asp?ProductID=012927&cod_sub_media=3906&WT.srch=1
* The Wall (Filme) 39,90 na Ferrs
http://www.ferrs.com.br/produto.asp?wprod=017164&par=buscape
*Tootsie 15,90 na starcineshop
http://www.starcineshop.com.br/sistema/ListaProdutos.asp?IDLoja=3769&origem=buscape&IDProduto=1547091&q=Dvd+Tootsie+-+Ed.+do+25%BA+Anivers%E1rio+(Dvd+Duplo)&1ST=1&Y=9163425737524

essas referências devem desaparecer rapidamente, mas foram pesquisadas.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

5 motivos para NÃO piratear contestados.

Achei justo que para dar um contraponto aos 10 motivos para justificar a flexibilização dos direitos ou a mudança da lei, ou para por fim aos direitos autorais que eu contestasse as 10 maiores alegações contra a pirataria. Só consegui até agora encontrar 5 alegações. Então aí vai:

1. Pirataria ajuda o crime organizado.

É uma das poucas que tem um pouco de verdade. A pirataria profissional que revende CDs e DVDs nos camelôs e shoppings populares necessita de conivência das autoridades e, portanto os criminosos subornam policiais e juízes para que deixem o seu “negócio” funcionar “sem problemas”.
Mas o mesmo lugar onde se vendem produtos piratas, são vendidos produtos falsificados, contrabandeados e outros produtos que variam da ilegalidade a contravenção. Esses lugares e meios existiam antes da pirataria e vão continuar existindo depois dela. Gostaria que as autoridades atacassem todo o problema do comércio paralelo e não só a pirataria.
Pirataria essa, que inclusive agora está até diminuindo, uma vez que as pessoas estão fazendo seus próprios downloads diretamente da internet, sem necessidade de camelôs. É bom lembrar que os arquivos não são mantidos em nenhum servidor central do crime organizado, mas sim nas máquinas de milhões de usuários do sistema de file sharing (sem ganho ou interesse comercial).

Os piratas profissionais já não se concentram mais em CDs que não é mais rentável. O alvo são os DVDs cujo download é ainda muito demorado para maior parte da população.
Mesmo esses DVDs não vem de nenhum país asiático. Só as mídias vêm o download e gravação é 100% tupiniquim .

O crime organizado é um problema de polícia e governos coniventes e da impunidade que reina na justiça. A pirataria só está junto com esses outros itens, como cigarros, máquinas fotográficas, brinquedos, ervas, etc que também deveriam sair do mercado. O fato de a pirataria estar nesses meios é só o efeito da anacrônica lei de direitos autorais que a coloca na ilegalidade.

Uma vez que a largura de banda seja suficiente o download de DVDs vai desaparecer e essa alegação também vai ser completamente falsa.


2. DVDs e CDs piratas podem prejudicar o seu aparelho.

Essa alegação é risível. Assim como a que diz que podem pegar vírus. A leitura é feita por um laser e o reflexo é lido pelo aparelho. A não ser que a mídia tenha um problema de empenamento ou furo fora do centro (nunca vi isso), é que pode existir algum risco. Essa alegação demonstra o desespero da indústria.

Quanto aos vírus, basta manter um bom antivírus atualizado e tomar alguns cuidados básicos. Se o usuário é tão distraído ou inexperiente para pegar um vírus de um software pirata ele provavelmente seria infectado também por um e-mail, malware ou trojan de qualquer forma.


3. O governo perde milhões em impostos.

Alegação é tendenciosa e alega valores inverídicos.

Apesar de existir uma queda na arrecadação pela não venda de CDs ou DVDs nem todo consumidor de produtos piratas compraria o produto original. Assumir que quem gasta R$ 50,00 em 10 DVDs pagaria R$50 nas lojas por um DVD original é ser ingênuo. A maioria dos consumidores de baixa renda (maioria absoluta na venda de piratas) simplesmente não compraria se fosse um DVD só.

Mas se a alegação é verdadeira então as locadoras de vídeo deveriam ser responsáveis pela perda de arrecadação na venda de DVDs. Pois em geral quem aluga não compra. A TV a cabo também, pois quem assiste a um filme a no payperview 1,99 não paga os mesmos impostos da locação de R$8 e da venda e R$50.

Presunção de arrecadação não é arrecadação. As mesmas companhias que defendem o fisco com um fervor quase nacionalista, em sua contabilidade fazem de tudo para escapar dos impostos, quando até mesmo contribuem com a sonegação. Existem várias das pequenas lojas de CD se quer dão nota fiscal. Não vejo as gravadoras denunciando essas lojas que não pagam impostos também, no mínimo isso é tendencioso.

4. Os artistas/autores merecem o pagamento justo do seu trabalho.

Também acho. Mas em geral as gravadoras sonegam os direitos dos artistas e só pagam direitos a “elite” dos artistas mais prestigiados.
Um músico pouco conhecido que ajuda a gravar um instrumento de um álbum de um grande artista, por não ser conhecido, recebe um cachê pelo trabalho e não vê um centavo de direitos.

Artistas em começo de carreira aceitam praticamente qualquer coisa que a gravadora lhes oferece apenas para ter a oportunidade de gravar um disco. Em geral os músicos ganham pouco dinheiro com direitos. Quem enche os bolsos são as gravadoras.

O que as gravadoras agregavam no passado, como estúdio, produção, arranjo representam uma pequena parte do custo total da produção de um CD e mesmo esses custos estão caindo ao ponto de muitos artistas, mesmo amadores, terem seus próprios estúdios em casa.

A produção cinematográfica em proporção menor também tem ganhado muito em custos com a digitalização e também paga aos atores, dublês e produtores cachês fixos, ficando sempre com a maior parte do bolo da receita.

Apenas atores “reconhecidos” recebem cachês milionários o restante se contenta com uma pequena parte e a fama. Os “arrasa quarteirão” como Homem Aranha e Senhor dos Anéis chegam pagar os seus custos de produção nas primeiras semanas de exibição nos cinemas.

Muito antes de ir para o DVD a maioria dos custos produção já estão pagos. Um DVD em seu lançamento custa 49,90.
O curioso é que um preço padronizado em todas as lojas. Isso se chama cartel.... cadê o ministério público que não investiga isso?

Como uma pessoa normalmente vê um mesmo DVD uma meia dúzia de vezes (diferentemente do CD que pode ser ouvido centenas de vezes), os discos se desvalorizam rapidamente.
Apesar de conter áudio de maior qualidade que o CD e vídeo (que não é suportado pelo CD), em poucos meses (a exceção dos DVDs de shows musicais) chegam a custar menos de vinte reais nas lojas. Ainda assim dão lucro.

Como pode ser que um filme que custa muito mais caro de produzir que um disco, seja vendido nas lojas a um preço menor que um CD, mesmo com o DVD tendo som e imagem? Seguramente existe dinheiro para pagar os artistas e autores apesar da pirataria. Um novo modelo de nogócios tem que ser criado para suportar esse tipo de indústria. (Depois eu escreverei um artigo só sobre isso)

No caso da música a Apple Store vem montando um modelo de negócios (veja nesse blog) que mostra como é possível pagar aos artistas pelo seu trabalho no mundo digital.


5. A pirataria elimina empregos.

Sempre que existem grandes mudanças tecnológicas existem mudanças do mercado de trabalho. Quando vieram os carros, os ferreiros ficaram desempregados, quando veio o telégrafo os mensageiros ficaram desempregados, quando veio à automatização bancária, vários bancários ficaram desempregados, quando veio o disco de vinil, músicos ao vivo ficaram desempregados.

Mas ninguém voltaria à carroça, ao fonógrafo, ao mensageiro, ao banco sem automação. Estamos em um limiar tecnológico e os mercados de locação de vídeo e venda e distribuição de CDs vão ser afetados.

Mas esses mercados seriam afetados pela tecnologia independentemente da pirataria. Seja pelo vídeo on-demmand, payperview ou pela venda de músicas legalmente on-line. A pirataria só está acelerando um processo inevitável.



Como se vê os argumentos da indústria não resistem. Se você souber de mais algum argumento (Exceto – Pirataria é Crime, que é o que eu estou tentando mudar com esse blog), seja bem vindo e deixe um comentário.

Nix

10 Motivos

Outro dia, eu vi uma pessoa dizendo que pirateava por que não tinha condições de pagar pelos CDs ou DVDs por que eles eram muito caros.

Existem muitos motivos para defender a pirataria, mas dizer que é a favor por que não tem dinheiro para pagar é o mesmo que dizer que é certo roubar um carro por que não pode comprá-lo. É uma alegação falha e errada.

Eu não concordo com a comercialização de direitos autorais e acho que a lei tem que ser mudada.

As forças que mantém a lei e o atual status quo são enormes e poderosas. Por isso a imprensa (que deveria ser livre) não defende a descriminalização e nem ataca as indústrias de mídia, por que afinal a própria imprensa faz parte da mídia. Daí por que é tão difícil lutar pela flexibilização ou até mesmo a extinção dos direitos autorais.

Se você precisa de argumentos pra defender o ponto de vista da liberalização de conteúdo é melhor usar outra justificativa além de “não tenho dinheiro”.
Seguem então 10 motivos racionais pelo quais a pirataria deveria deixar de ser crime:

1. Faz parte da natureza humana copiar.

É copiando que se aprende a falar, dançar e a fazer tudo na vida. O ser humano imita para poder aprender. É da sua natureza! É assim que falamos a mesma língua, usamos as roupas da moda, passamos nossas tradições para nossos filhos e aprendemos tudo que sabemos. Por isso não é na maioria dos casos, considerado violação de direitos quando se aplicam conceitos ou idéias aprendidas em uma obra. Mas agora a cópia está muito mais fácil do que jamais esteve. É natural que as pessoas sintam necessidade de copiar e se for fácil elas vão fazer. Qualquer força que tentar impedi-las de fazer isso vai lutar contra os fundamentos mais básicos da natureza humana e vai encontrar enorme resistência. É por isso que as pessoas instintivamente acham que é certo copiar.


2. É impossível deter a pirataria.

Os computadores e a internet foram concebidos para copiar e compartilhar informação. Faz parte da sua concepção intrínseca. Quando uma informação trafega pela rede ela é copiada dezenas de vezes, de um roteador a outro, ou de um servidor a outro até chegar a seu destino. Simplesmente o ato de navegar nessa página, já faz com que esse texto esteja copiado localmente no seu computador (Cachê), na memória RAM e na memória de vídeo. Uma vez que ela esteja nesses lugares você poderá copiá-la para onde quiser. Para impedir a pirataria seria necessário "desinventar" os computadores e a internet ou redesenhar a forma como eles foram concebidos.


3. Invasão de privacidade.

Para que o combate a pirataria seja bem sucedido as poderosas indústrias da mídia e do software teriam que invadir a privacidade de todos os computadores para fiscalizar o que é ou o que não é pirata. Ou invadir os provedores de acesso, para saber o que está sendo copiado, censurar os sites de busca. Isso invade as suas liberdades individuais e a privacidade. A indústria de mídia vem tentando de diversas formas obterem esse controle, com algum sucesso. Mas isso é simplesmente inaceitável, por que viola alguns dos mais importantes direitos do cidadão. Uma coisa é obter um mandato de busca para quebrar o sigilo de um terrorista ou um pedófilo. Em princípio é um número limitado de pessoas que praticam esses atos criminosos em que podem ser concedidas pela justiça a quebra do sigilo. Mas a pirataria é praticada por quase toda a população que tem acesso a computadores. Seria invadir a privacidade de todas as pessoas por que seria impossível obter autorização judicial para todo mundo. Não dá para separar o tráfego pirata do não pirata e não dá para violar um direito para proteger outro.


4. Cerceamento a liberdade de expressão e censura.

O controle dos direitos autorais faz com que fique na mão de poucos a decisão do que deve ou não deve ser gravado, impresso. Com base nesse controle esses grupos de mídia decidem o que vai fazer parte da sua cultura ou não. Em última análise eles cerceiam a liberdade de criação, de expressão dizendo quem pode ou não publicar um livro, ou que música deve ser ouvida ou não. Além disso, pode ser usado como uma forma de censura. A imprensa, por exemplo, não divulga nada que seja pró-pirataria porque ela é parte da mídia.


5. Democratização do acesso a informação e a cultura.

A pirataria espalha e divulga a cultura e informação de uma maneira sem precedentes na história da humanidade. A diversidade de artistas, filmes e livros que podem ser acessados é simplesmente estonteante. Isso ainda sem a descriminalização. Veja só o que é capaz de fazer um site como o Google só com o que está apenas disponível on-line. É uma ferramenta fantástica. O Google tem um projeto (Google Books) onde a idéia é indexar todos os livros que já foram publicados no mundo. Mas isso tem esbarrado em acordos e leis de direitos autorais. Imagine o valor disso quando, um pesquisador, estudante ou um profissional necessitar saber algo. Sem as leis de direitos autorais o conhecimento humano poderia expandir-se de forma inacreditável.


6. Lucros abusivos dos detentores dos direitos.

Os direitos autorais se baseiam no bizarro conceito de trabalhar uma vez e ganhar muitas vezes pelo mesmo trabalho. Apesar de inicialmente (na publicação de livros) ser um conceito que tinha certa validade, pois os riscos editoriais e os custos eram altos, a era digital fez os riscos e os custos produção caírem drasticamente. Fazendo os conceitos de direitos autorais ficarem obsoletos. É claro que os artistas e autores devem receber por seu trabalho. Assim ao escrever um livro ou gravar um disco esse custo de produção deveria ser único pelo trabalho. Mas o valor deveria ser dividido em partes cada vez menores quanto mais esse custo fosse amortizado. Não faz sentido que uma pessoa/empresa fique multimilionária por que vendeu milhões de CÓPIAS do original. O trabalho em questão é apenas de distribuição e divulgação. No meu trabalho eu o faço uma só vez e recebo uma vez. Acho que todos deveriam ganhar seu sustento assim.


7. Um peso e duas medidas.

As próprias empresas da mídia violam corriqueiramente os direitos autorais (como já foi dito anteriormente nesse Blog) ou aplicam esse conceito só quando é vantajoso para elas. Se você levar um disco de vinil em uma loja e tentar trocá-lo por um CD apenas pagando os custos da mídia (Cerca de R$ 1,20), vão achar que você é maluco! Mas, faria todo sentido! Se você pagou pelos direitos quando comprou o vinil, é absurdo pagar pelos mesmos direitos novamente quando você compra o mesmo conteúdo em CD! Quando se alega isso, as gravadoras afirmam que venderam o direito de ouvir a obra em uma única mídia. Mas isso não é verdade, pois a lei me dá o direito de gravá-lo uma fita K7 ou ripá-la para MP3 sem que isso constitua infração do direito autoral. Caso contrário, CD-R, DVD-R, Fitas (K7 e VCR) e seus aparelhos além de tocadores de MP3 seriam ilegais.


8. Leis absurdas.

As leis de direitos autorais são leoninas, absurdas e são de difícil interpretação e cumprimento. É praticamente impossível a um cidadão viver sem violar alguma lei de direitos autorais. Seja ao xerocar um livro para um trabalho na faculdade, pois a lei não especifica qual é o conceito de “pequeno trecho”, seja ao dar uma festa com música (o conceito de intenção de lucro pode ser aplicado até ao condomínio do prédio que aluga o salão), seja ao encaminhar um e-mail com uma apresentação em PowerPoint, seja ao gravar um episódio da TV e emprestá-lo a um amigo. Se você aplicar a lei ao pé da letra até mesmo um churrasco com os amigos pode ser uma violação se você cobrar pela carne e cerveja e ouvir música de um CD original durante o evento. Sendo assim acabamos todos sendo criminosos! Por falta de conhecimento, mesmo muita gente que acha que não pratica a pirataria o faz sem perceber.


9. Modelo de negócios atual ficou obsoleto.

O modelo de negócios em que você "prende" uma obra em um meio (plástico, papel, fita magnética, etc.) e cobra por isso está ultrapassado. Com a era digital a obra ficou independente do meio físico e pode ser transportada e distribuída sem custo nenhum. Não é simples cobrar por uma obra se ela não está enclausurada dentro de um meio físico. A indústria de mídia vai ter que encontrar novos modelos para viabilizar o pagamento do trabalho de maneira justa. É hora de essas empresas repesarem suas margens de lucros excessivos para se adequarem ao negócio da mídia digital e criarem maneiras de tirar algum dinheiro disso.


10. Multiplicidade de autores e diversidade de conteúdo.

Até recentemente os meios de distribuição de conteúdo eram sempre de poucos autores para muitos usuários espectadores. As pessoas não eram autoras nunca contribuíam para a autoria ou interferiam nas obras já criadas. Seja da gráfica para os leitores, seja da gravadora/rádio para os ouvintes, seja das produtoras/emissoras para os telespectadores ou dos desenvolvedores de software para os usuários. Os canais de produção e distribuição não deixavam muito espaço para os amadores. Mas com a queda nos preços da produção e distribuição, qualquer pessoa pode escrever e publicar na internet sem interferência de um intermediário. Hoje o You Tube, no My Space, e os programas open source são exemplos de criações do público para o público. Qualquer um pode agora pode ser autor, pode pegar o trabalho de outro modificá-lo e distribuí-lo. Isso é sem precedentes na história da humanidade e sites como a Wikipédia mostram o poder que isso tem. A Wikipédia tornou todas as enciclopédias de papel obsoletas. Entretanto os direitos autorais proíbem que essa revolução seja ainda maior, pois para cada conteúdo produzido individualmente existe o potencial de um sem número de violações de direitos. Da mesma maneira que eu posso hoje “samplear” ou “remixar” uma música e fazer outra completamente diferente ou um em software como o Linux pode agregado em modo colaborativo tornando-o cada dia melhor isso também já acontece moderadamente com os vídeos e os livros poderão seguir em breve esse caminho novo e fantástico. O único empecilho são os direitos autorais.

Nix

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Falsificação e Pirataria

É preciso separar pirataria de falsificação. Pirataria de software, músicas, filmes e livros são cópias idênticas ao original, que não tentam se passar pelo original. O produto original não é afetado diretamente e quem copia ou compra a cópia sabe que está comprando uma cópia. A falsificação é quando um produto tenta se passar pelo original, com um preço menor e qualidade em geral muito inferior. Nesse caso não só é um crime de propriedade intelectual, mas também um crime de estelionato. Já que o consumidor está sendo enganado e não é conivente com a prática como no caso da pirataria. Em resumo ela leva um produto, mas desejava levar outro.

As falsificações são de 3 tipos:

1) Produtos praticamente idênticos ao original.
Isso acontece quando o produto adquire uma “aura” de especial que faz com que ele seja vendido muitas vezes acima do custo. Assim é possível aos falsificadores fabricarem um produto com qualidade similar e vendê-lo a um preço muito menor. Por exemplo, uma bolsa da Luis Vuitton pode custar uns R$ 14 mil ou mais nas lojas. Na china é possível produzir uma bolsa com a mesma qualidade por custo muito inferior. O custo de produção sem impostos, distribuição e marketing pode chegar a ser menos de cem reais. Mas a Luis Vuitton as vende a esse preço elevado por que ela faz um Marketing que torna seus produtos desejáveis (aumentando a procura) a ponto de alguém pagar muito mais pelo produto do que ele custa de fato. Fábricas terceirizadas na china que fabricam a própria bolsa original com o mesmo material e métodos de produção do original, desviam a produção e revendem o produto no mercado paralelo por 1% do preço das lojas. Uma barganha!

Nesse caso a qualidade é idêntica ou quase, alguns etiquetas ou fechos são fornecidos pelo detentor da marca, para garantir a originalidade então eles produzem cópias desses detalhes para montar o produto final.

Os psicólogos podem tentar explicar por que uma pessoa paga muitas vezes mais por um produto só por que ele é de uma determinada marca.
Apesar de eu não concordar com esse desvio, pois esse esquema de produção leva corrupção e até roubo (por exemplo, etiquetas originais do prduto podem ser roubadas para suprir o paralelo) isso mostra claramente que o produto está sendo vendido sob uma margem de lucro abusiva. Nesse tipo de negócio as margens chegam a ser superiores à do tráfico de drogas.

Como isso pode ser possível? Um negócio lícito pode ter esse tipo de ganho? As grifes usam técnicas de marketing e psicologia para tomar o dinheiro de uma pessoa que fica praticamente indefesa (é sério a estudos com relação a isso) e acaba comprando seu produto com preço extremamente majorado. É como tirar doce de criança.

Há de se perguntar se é ético manipular a mente das pessoas dessa forma para conseguir obter esses ganho. Mas em fim isso é válido no capitalismo e também não é ilegal. Mas com preços tão altos fica claro por que a falsificação acontece.

Outro exemplo que eu vi com os meus próprios olhos foi de um grande fabricante de tecidos de Denim (jeans) que não fabricava as vestimentas, mas sob contrato negociava com confecções terceirizadas para fabricarem roupas. Os fabricante de tecidos então repassava o produto final aos detentores de marcas como famosas e também as mais populares.
O problema era que as confecções apontavam perdas de produção exageradas, mas o fabricante do Denim desconfiava desses números. Eles achavam que as confecções estavam desviando ilhoses, etiquetas, zíperes para o mercado paralelo. Não era roubo uma vez que a confecção pagava pela perda do produto. Mas se a fábrica de tecidos enviava mil etiquetas ela esperava receber algo como 990 calças prontas, mas a confecção alegava uma perda maior e voltavam com 800!
E por que isso?
O custo de produção das calças girava em torno de R$ 12 (sim é verdade, a calça pronta com tecido e tudo, só faltavam a distribuição e o marketing no preço). Mas a calças de grife chegavam a ser vendidas por 30 vezes mais nas lojas pelas grifes! As populares, mesmo sendo feitas na mesma máquina e mesma matéria prima eram vendidas por muito menos. O que as diferenciavam eram os modelos e o caimento. Ficava evidente que o lucro das grifes enorme e por isso as calças de marcas populares tinham perdas muito menores! As confecções vendiam no mercado paralelo com um lucro fenomenal. Uma boa margem de lucro nesse ramo é algo que beira de 10 a 15% elas conseguiam 100%.

Mas o pote de ouro estava em outra forma de venda paralela. A grade de produtos como calças fabircadas pelas grifes ia por exemplo ia do tamanho 28 até o tamanho 40. Os tamanhos ainda eram produzidos menores que os tamanhos médios do mercado. Então 40 na realidade era equivalente a um 38.

Por que as grifes fazem isso? A idéia era fazer que uma cliente obesa não consiga vistar as roupas da grife. Alugmas mulheres que usam 34 ao ver que não cabiam no modelo, não adimitiam comprar uma calça maior. Ao invés elas tentam emagrecer para visti-las. Assim só aquelas com que são magras como as modelos podem vesti-las! As confecções sabiam disso. Então elas vendiam no mercado paralelo as mesmas calças “legítimas” com os tamanhos 42 a 56 ao mesmo preço das de grife obtendo um ganho ainda maior! Essa não é uma prática perversa? É claro que não há nada de ilegal no que as grifes estão fazendo, mas não me parece ético.

2) Falsificações de qualidade inferior.

Elas ocorrem quando o produto original é muito vendido, mas não a um custo que compense fabricar um idêntico ao original. Nesse caso há uma intenção clara de lesar o consumidor. Isso seguramente é um crime e algumas vezes hediondo! Por exemplo. Imagine que existem criminosos quem fabricam próteses para cabeça de fêmur falsificadas. Imagine um implante desses que é colocado no seu corpo, mas é rejeitado por estar contaminado por que a falsificação não adotou os procedimentos de esterilização adequados. Não defendo esse crime e acho que pessoas que fazem falsificações como essas deveriam ser presas por toda a vida.

Contudo isso demonstra outro anacronismo que são as patentes. É óbvio que as empresas que desenvolvem um produto como esses necessitam investir muito em pesquisa. Se não houvesse as a proteção da propriedade intelectual não haveria um interesse econômico para que elas desenvolvessem produtos como esse. As patentes, entretanto, garantem um “monopólio” do mercado que deveria ter a função de permitir que as empresas recuperassem os seus custos com pesquisa e desenvolvimento. O problema é que em não havendo nenhuma concorrência ao conseguir recuperar seus custos as empresas não baixam os preços. Isso acontece em outros mercados corriqueiramente, por exemplo, na área de tecnologia de informática. Um novo disco rígido com alta capacidade requer muita pesquisa e desenvolvimento. Quando são lançado custam caríssimo. Após os custos de desenvolvimento terem sido amortizados além da escala de produção os preços caem dramaticamente. O curioso é que com o passar do tempo, aquele novo disco vai ficando obsoleto e consequentemente a economia de escala diminui, mas nem assim os preços sobem. Quando as empresas mantém seus preços elevados após a amortização de seus custos de desenvolvimento ela cria espaço para a falsificação.

Pense nisso: Fabricar uma prótese de cabaça de fêmur falsa não é um trabalho simples. Requer pesquisa (mesmo para fazer uma falsa, pois por exemplo, como saber que materiais mais baratos podem ser usados?), desenvolvimento de moldes, montagem de uma linha de produção, desing e impressão de embalagens, manuais e etiquetas, com qualidade suficiente que consigam enganar médicos e hospitais. Além disso, uma prótese mesmo que falsa, não pode se soltar ou não exercer sua função básica no dia seguinte após a cirurgia. Se assim fosse o médico ou o hospital rapidamente suspeitariam do fornecedor e a reclamação dos pacientes ficaria óbvia. Assim a prótese tem que ser minimamente funcional, ela não pode ser uma imitação tosca.

Considere que o preço de venda da prótese falsificada tem que cobrir os gastos com a corrupção, valer risco de ser pego. Para isso eles devem ter uma margem de lucro obscena, mas ainda assim eles tem que ser mais baratos que o original se não o golpe não funciona.

Uma vez mais eu repito. Eu não defendo esse tipo de crime, mas dá para imaginar quantas vezes o preço do produto original é mais caro que o custo para que os criminosos achem que “vale a pena” montar todo um esquema de falsificação desses. Fica evidente que o preço do produto orignal é muito majorado. Mas quando se tratam de produtos médicos, por exemplo ninguém quer questionar os custos dos fabricantes. Afinal eles devem estar tentando fazer o melhor para médicos e pacientes. Será? Quem garante que os produtos realmente não poderíam ser mais baratos em um monopólio? Hoje as patentes são concedidas por prazos fixos como 10 ou 25 anos dependendo do tipo produto e de patente. Penso que as defesas da propriedade intelectual em casos como esse deveriam ser vinculadas ao custo do desenvolvimento, durando apenas o tempo de amortizar esses custos, talvez um pouco mais para cobrir riscos e outros gastos indiretos.

Seguramente, devido aos preços artificialmente inflados de muitos aparatos médicos, muitas pacientes acabam não tendo acesso aos tratamentos e produtos médicos por poderem arcar com esses custos. Outras vezes esses custos são cobrados do seguro saúde, assim fica mais fácil infla-los uma vez que o preço final não e sentido pelos segurados. Mas em última análise acaba sendo pago pelo paciente.

3) Produtos evidentemente falsificados ou similares.

Existem produtos que tentam surfar na onda de sucesso dos outros produtos. Por exemplo, imagine que você vai comprar um tocador de MP3 da marca AIPODE. Você dificilmente seria enganado! Você provavelmente deveria estar ciente que está comprando um produto de qualidade inferior. Se você concorda com isso, não há problema. Desde que esses produtos, paguem os impostos e deixem claro aos consumidores que se tratam de imitações baratas não tem por que ser um problema. Na realidade isso é até mesmo um elogio ao sucesso de determinadas marcas. Um exemplo interessante é de um modelo brasileiro do Porsche 550 Spyder que era uma réplica não autorizada, mas que ficou tão famosa que acabou recebendo a benção da própria Porsche desde que constasse em lugares discretos “Porsche by Kramer Design” como forma de identificar que se tratavam de réplicas. Nem todo produto similar é ruim. Às vezes um pen drive da “Sam Disk” (o original é o Sandisk) vai funcionar de maneira semelhante ao original e sem muitos problemas, o que os torna mais baratos é que eles não têm o marketing e a fama dos produtos originais. É mais caro nesse caso fabricar um produto com defeito (uma fábrica de memórias defeituosas eliminaria o ganho de volume fazendo com que as defeituosas ficassem mais caras), do que fabricar-los direito. É claro que existem produtos similares de pior qualidade. Mas não vejo problemas em relação a isso desde que os compradores estejam informados que não se trata do original. Muitas vezes produtos como esses são vendidos mais baratos em camelôs ou em shoppings populares mais por que são contrabandeados. Mas isso é um problema de contrabando e não de pirataria ou falsificação. Esse problema tem a ver com outros assuntos que são os impostos de importação abusivos e a carga tributária insana praticada no Brasil. Acho que todos os produtos devem pagar seus impostos, mas 40 ou 50% de impostos é uma questão para ser discutido em outro fórum.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Apple Store

“Phil Schiller em 06/01/08 anunciou na Mac World em São Francisco que o iTunes já vendeu mais de 6 bilhões de canções nos últimos 6 anos. É o maior catálogo com mais de 10 milhões de músicas. Já são 75 milhões de contas e agora as músicas vão ter novos preços. Em três diferentes faixas. Vai existir a faixa de 69 cents, a de 99 cents e a de US$ 1,29.”

“Também no site existe mais música livre de DRM (Digital Rights Management) disponível no iTunes. Eles falam de 8 milhões de músicas sem DRM e mais de 2 milhões vão ser liberadas no último trimestre. Se você tem alguma música baixada você poderá ir até o catálogo e liberar a música de DRM.”

E o que essa notícia tem a ver com esse Blog?

Enquanto a indústria fonográfica vem reclamando das perdas causadas pela pirataria a Apple viabilizou um modelo de negócios novo. Esse modelo de comercialização de músicas on-line não é novo, mas foi a Apple que brigou para torná-lo um sucesso obtendo de todas as gravadoras, acordos que viabilizassem a comercialização de músicas em um único site a baixo custo. Infelizmente o Brasil continua de fora.

A maioria das músicas continha o mal fadado DRM, que faz com que a música baixada para uma pessoa não possa ser copiada para outra e tocada em outro iPod ou qualquer produto sem DRM. Pois é, eles vão retirar o DRM de todas as músicas que estão no iTunes.

A maioria esmagadora das pessoas que tem um iPod/iPhone e usam a Apple Store tem também um computador para baixar as músicas e gravá-las no seu aparelho. Essas pessoas têm o potencial para baixar suas músicas diretamente da Internet usando qualquer software P2P de graça. Mas elas escolhem baixar PAGANDO por elas! São 75 milhões de usuários. Para piorar até agora as músicas continham quase sempre uma proteção contra cópias o que era uma chateação para os usuários.

Ainda assim a Apple vendeu 6 bilhões de canções, o que deve dar um faturamento de aproximadamente 6 bilhões de dólares considerando que cada música era vendida a $0,99.

Por quê?

Conveniência. Facilidade de acesso, organização, imagens das capas, qualidade de áudios incrivelmente superiores aos encontrados na internet. Baixar músicas via P2P pode ser uma chatice. A informação da música vem errada, faltando, pessoas colocam músicas falsas, álbuns incompletos, baixa qualidade e outros problemas. Esses recursos são essenciais para usar a interface do iPod em que se pode escolher a música passando o dedo na tela e “folheando” as capas dos discos. No iPod pode-se também ouvir músicas por gênero, artista, ano, classificação, etc. Mas se essas informações estão faltando, erradas e incompletas o recurso se torna inútil. É muito mais conveniente pegar a música na Apple Store, sem dor de cabeça, sem problemas, rápido simples e fácil.

Fica claro que se as gravadoras alterarem a sua postura (já estão mudando) e a legislação mudar os artistas vão receber o dinheiro pelo seu trabalho mesmo com a pirataria sem essa necessidade de criminalizar o usuário.

É óbvio que vender discos em lojas é uma atividade em extinção independente da pirataria por que faz muito mais sentido distribuir música digitalmente, mas é o preço da evolução tecnológica. Ou você acha que deveriam acabar com os celulares para que as pessoas voltassem a usar os orelhões?

Nix

Entendendo a lei

Eu não sou a favor da pirataria, mas eu sou favorável a liberdade de expressão. Questionar a lei de direitos autorais não é crime.

Você antes de ser contra a pirataria deve ler as leis 5.988/1973,
Lei 9.609/1998, 9.610/1998 e 10.695/2003 além do artigo 184 do código penal para saber o que é pirataria e se você mesmo não está violando-as. A lei especifica que copiar, armazenar ou distribuir com intuito de lucro direto ou indireto é crime. Já o artigo 184 diz que o uso da obra deve obter a permissão de uso do autor. Exceto quando se tratam de “pequenos trechos” ou se for para uso privado. A lei estabelece pena mínima de 2 anos de prisão e multa.

Traduzindo. Se você copiar um disco original seu em uma fita K7 para ouvir no seu carro, isso não é crime. Assim como copiá-la para MP3 para ouvi-la no seu micro ou iPod também não. Não é crime gravar uma novela da TV no seu vídeo ou capturar uma tela do Windows para fazer um manual explicando seu funcionamento.

Mas a lei é dúbia no que diz respeito à intenção de lucro, por que não precisa se provar houve lucro basta que exista a idéia de obter lucro. Como se prova isso? Além disso, o código penal artigo 184 indica que os usos necessitam da aprovação do autor. Se não há aprovação é considerado crime.

Dessa forma fica praticamente impossível viver sem cometer algum ato que possa ser considerado crime contra os Direitos Autorais.

Exemplos:

Suponha que você vai dar uma festa, se você cobrar ingressos é obrigatório pagar ao ECAD pela música que será executada durante a festa. Mesmo que seja uma formatura de faculdade ou festa de casamento. Porque quando você contrata a Banda há a intenção de lucro e, portanto o pagamento é devido.

Extrapolando, se você vai fazer um churrasco e decide cobrar dos seus amigos o custo da carne e bebidas. Se durante o evento você pega um CD original e coloca para tocar ao não pagar ao ECAD você está cometendo um crime. Mesmo que não haja a intenção de lucro, se sobrar carne e cerveja e você não doar as sobras você obteve lucro. Eu sei. É um exagero, mas é a lei e que nesse caso poderia ser seguramente interpretada assim. Só não acontece por que o ECAD ainda não vai a todas as festas verificar se a violação está acontecendo hoje a investigação só acontece a partir de uma denúncia.

Se você vai dar uma festinha de aniversário infantil sem música, para se livrar do ECAD, mas aí você vai cantar “Parabéns Pra Você”. Como o salão e Buffet são alugados há a presunção de lucro. Assim, só por isso você deveria ter pagado direitos autorais a Summy Company e as irmãs Mildred e Patricia Smith Hill Insano, não? Acredite os “Parabéns a Você” não está em domínio público. Se você não acredita cheque na Wikipédia.

Já usou uma imagem sem pedir permissão ou pagar os devidos direitos? Por exemplo, na sua comunidade do Orkut, uma foto do seu time que saiu no Jornal e você colocou em um Blog, uma imagem de Tancredo Neves que você colou em um trabalho para escola? Se as imagens em questão não são de domínio público ou são autorizadas pelo autor, é caracteriza violação do direito autoral punível com prisão e multa. Atire a primeira pedra quem nunca fez isso!

Você decidiu reproduzir um DVD para crianças de um orfanato ou creche. Se você não solicitar os direitos para execução pública da obra é também uma violação dos direitos. DVDs ou CD são licenciados para execução privada e isso caracteriza uma execução pública. Não interessa se isso é para uma boa causa ou se é para evangelizar ou ainda se é para um evento cultural. Sem permissão do autor viola o artigo 184 do código civil!

Você já cantou músicas em uma missa, que foram adaptadas de uma música popular? Trocaram a letra da música para louvar Maria ou Jesus? Sem a explícita permissão isso são plágio e violação de direitos. Recolher as oferendas durante a missa caracteriza lucro, portanto viola a 10.695/2003 também!

Você já encaminhou em um e-mail que continha um PPT inspirador com imagens lidas e uma música maravilhosa com poemas ou frases edificantes? Se sim, isso é tripla violação de direitos. Direitos de imagem, direitos de música, direitos literários. Você só poderia fazer-lo mediante a autorização explícita ou verificando que as imagens, músicas e textos são de domínio público.

Segundo o autor de The Pirates Dilema, Matt Mason (procure no you tube), os Americanos deveriam pagar diariamente 18 milhões de dólares todos os dias por crimes como esses cometidos sem consciência da violação de direitos.

Assim, talvez na era digital tenha chegado a hora de discutir a validade do conceito dos direitos autorais. Pois me parece impraticável seguir vivendo normalmente sem praticar nenhum crime desse tipo.

Quando as leis de direitos autorais foram criadas elas tinham o propósito justo de proteger a propriedade intelectual e salvaguardar os editores de livros dos riscos envolvidos nos custos de se editar uma obra e ela eventualmente encalhar. Mas na era digital os custos de produção, edição e distribuição caíram dramaticamente tornando necessário o desenvolvimento de um novo modelo de negócios e novas leis para sustentar esse modelo.

O negócio das gravadoras era gravar e distribuir músicas e vídeos em um meio seja ele magnético; vinil ou plástico. Com a era digital esse negócio perdeu seu valor. Novas tecnologias sempre mudaram conceitos e varreram do mapa indústrias inteiras.

Por exemplo, quando o fonógrafo surgiu os artistas ficaram indignados por que seus empregos de cantores de rádio e em bailes foram ameaçados pela nova invenção. As cantoras do rádio deixaram de ser necessárias. Quando Thomas Edson inventou a câmera de cinema ele queria cobrar direitos dos produtores pelo uso da sua invenção. Os produtores se recusaram a pagar esse absurdo e saíram de Nova York e foram para Hollywood como bons piratas não pagar os direitos (Fonte. The Pirates Dilema). Ao surgirem as fitas K7 e o videocassete os dois foram alvos de processos da indústria de entretenimento por que violavam os direitos. Até que um acordo foi feito para viabilizar o uso dessas tecnologias para o uso pessoal. Com o surgimento do videocassete milhares de cinemas fecharam ou se reinventaram para não desaparecer, agora os Home Theaters e as TVs de 42 polegadas ameaçam os cinemas que vão ter que se reinventar uma vez mais para proporcionar uma experiência que agregue valor.

A pirataria apenas é a evidência de que o atual modelo não é mais viável e nem sustentável. Lutar contra isso é o mesmo que enxugar gelo. A pirataria é só o reflexo de que a lei está desatualizada. O gênio da tecnologia saiu da garrafa. Não dá mais para por de volta. Não dá para desinventar. A sociedade tem que criar novas leis e novos meios de pagar aos detentores da propriedade intelectual pelo seu esforço. Veja o exemplo da AppleStore onde músicas são vendidas por faixa a baixo custo talvez esse seja o novo modelo de negócios. Hoje a Apple é o quinto maior distribuidor de música do planeta. Há seis anos nem estava no mercado.

Pense nisso antes de sair fazendo uma inquisição por aí caçando as bruxas da pirataria antes que você mesmo acabe no fogo.

Nix

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Precisamos das gravadoras?

As gravadoras manipulam o mercado fonográfico de uma maneira que considero antiética e imoral (em alguns países essas práticas são até ilegais). Decidem o que entra e o que sai do catálogo com base na rentabilidade e não na criatividade artística. Músicos ótimos algumas vezes são excluídos, não por que não tem talento mas por que, por exemplo, competem com outra estrela da gravadora na mesma faixa de público ou por que não apresentam a mesma rentabilidade que no álbum anterior. As rádios recebem Jabá (brindes, prêmios e dinheiro) para tocar a música de um artista muitas vezes de qualidade musical questionável para ser promovido, enquanto outros músicos não tem a menor chance de se destacar. Elas promovem bandas de apelo popular, musicas que “pegam rápido” ou muito semelhantes a sucessos anteriores como forma de garantir ou maximizar a rentabilidade. Se o músico compõe algo que não parece rentável, o produtor musical pode arrumar um “arranjador”, sugerir modificações ou retirar a música do álbum. Surgirem artistas independentes, livres e realmente criativos no mercado fonográfico tradicional é um verdadeiro milagre.

Se você perguntar para qualquer músico que não tem um disco gravado o que ele mais deseja, muitos deles, acima até mesmo do dinheiro vão dizer que é ter o seu trabalho conhecido e apreciado.

Sites como Last FM (www.lastfm.com) ou Pandora (www.pandora.com) que foi proibido em vários países como o Brasil, indicam a música pela similaridade de gosto musical. Com isso o ouvinte passa a conhecer bandas que mais aproximam do seu gosto. Por exemplo, ao ouvir Bad Religion e Pennywise, você pode acabar descobrindo a banda brasileira Rusty Project (www.rustyproject.com) de Curitiba. Ela tem um estilo musical que parece não agradar as gravadoras nacionais (um tipo de Punk Rock com canções em inglês).

Apesar de não terem contrato com nenhuma gravadora eles tem um estilo musical e qualidade técnicas impecáveis. Um fã desses conjuntos internacionais jamais descobrira um artista como esse. Não está nas rádios ou tem CD nas lojas, mas o som agrada em cheio os ouvintes. Isso acontece por que os fãs indicam para as pessoas de gosto semelhante (os chamados vizinhos musicais) e de boca em boca ou melhor de clique em clique o nome via se espalhando. O mais curioso é que o Rusty Project distribui sua música de graça por que quer! Outros artistas mais famosos como Dave Matthews Band vem distribuindo musicas de graça pelos seus sites ou através do My Space, por que eles perceberam o potencial que isso tem.

Graças aos sites de afinidade musical isso é possível. O mesmo fã de punk rock pode encontrar-se escutando bandas da Filipinas como Slapshock os Suecos do Passanger, e os alemães do Panik. A diversidade se torna imensa e sem interferência das gravadoras. As pessoas passam a decidir do que gostam por si mesmas, de forma muito mais pulverizada como nunca antes foi possível. Contudo esse tipo de experiência ainda é limitada. São poucos os sites que fazem esse tipo de indicação por afinidade musical e o alcance do público que tem acesso a internet de banda larga para fazer uso dessas ferramentas ainda é pequeno. Mas quando as gravadoras perceberam o potencial que isso tem, entraram em pânico. O poder de influenciar o mercado musical está saindo das suas mãos. Elas não sabem o que fazer. Lembrem-se que ha alguns anos ninguém tinha idéia do que era MP3 ou Napster, agora a música digital e o compartilhamento de arquivos ameaçam a indústria.

Não é difícil prever o fim da influencia das gravadoras e a manipulação do mercado em alguns anos. O que a RIAA (Recording Industry Association of America) fez? Bloqueou o Pandora e está perseguindo as rádios on-line. Mas as rádios não deveriam ser benéficas para as gravadoras por que divulgam os artistas? Rádios que não podem ser manipuladas, nem controladas por região não são interessantes a indústria.

Além disso, as gravadoras mantêm em catálogo aquilo que é rentável. Por exemplo, é possível hoje comprar praticamente todos os discos lançados pelos Beatles, por que a mais de 40 anos eles continuam rentáveis. Mas outros artistas que mesmo tendo qualidade musical não tem a mesma sorte. Se você tentar comprar o álbum Construção (1969) do Chico Buarque, provavelmente vai só encontrá-los em sebos, por que ele está fora de catálogo. Aí cabe ao fã rezar por um lançamento de uma coletânea ou uma reedição especial. Não deveria ser assim. Bandas de punk rock filipino também não vão encontrar vez no catálogo das gravadoras a não ser que seja sucesso em muitos outros países antes de chegarem às prateleiras tupiniquins.

Contudo na internet os acervos completos estão disponíveis em forma digital todo o tempo. Discos raros, fora de catálogo e bandas obscuras estão lá! A cultura está preservada e acessível para quem quiser. Não dá para ser mais democrático e livre!

A comercialização de obras artísticas com o interesse de maximizar a rentabilidade das gravadoras não é boa para a cultura. Se eles necessitarem prensar mais cópias do último disco do Sorriso Maroto eles não vão hesitar em tirar a Construção de Chico Buarque do catálogo! Será que esse deveria ser o critério para manter um artista em catálogo? Será que tudo deveria se resumir a rentabilidade? Será que um artista deveria ser desprezado por não ter gravadora?

Não sou contra o capitalismo, mas quando se trata de trabalhos artísticos e culturais e se tem dinheiro interferindo na criação eu acredito que isso invade a área da liberdade de expressão. O modelo de negócio das gravadoras vai ter que mudar para contemplar as mudanças tecnológicas, culturais para não mais ferir a liberdade de cultura e expressão.
 
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